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Foto do escritorNice Araujo

As três ondas do feminismo

MARÇO LILÂS

É o mês em que se comemora as conquistas de uma luta em prol das mulheres em todo o mundo. A cor lilás simboliza a igualdade e é símbolo dessa luta.

A história do feminismo pode ser dividida em três "ondas". A primeira ocorreu no século XIX e início do século XX, a segunda nas décadas de 1960 e 1970 e a terceira na década de 1990 até a atualidade.

A figura feminina foi construída numa sociedade patriarcal, em que as mulheres eram vistas como um ser inferior aos homens. Até o século XIX elas não podiam ler, escrever, estudar, guerrear, etc. Suas atribuições eram restritas aos afazeres domésticos e a educação dos filhos. Não podiam trabalhar fora e nem ter acesso aos assuntos políticos ou econômicos.

A partir da Revolução Industrial no século XIX, que esse panorama muda de maneira substancial. As mulheres começam a trabalhar nas fábricas, fazendo parte da força econômica do país.


Primeira onda do feminismo:

A primeira refere-se fundamentalmente à conquista do sufrágio feminino, movimentos do século XIX e início do XX, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. O movimento tinha foco na promoção dos direitos jurídicos, direitos contratuais e de propriedade, oposição aos casamentos arranjados e à propriedade de mulheres e filhos pelos seus maridos. No final do século XIX, o objetivo do movimento focou, principalmente, na conquista do poder político, especialmente o direito ao voto.

Filme: As sufragistas

Artista feminista na época:

Louise Borgeois

Essa artista é muito conhecida por seu trabalho em esculturas e grandes instalações de arte. Ela expressou em sua carreira a grande preocupação com as questões feministas, e algumas de suas obras permanecem no imaginário coletivo da libertação feminina até hoje.

Femme Maison (1946 - 1947)


Nessas pinturas a artista retrata, mulheres nuas com casas no lugar de suas cabeças. Seu objetivo com este trabalho era explorar a ansiedade feminina devido a seu confinamento doméstico imposto pelo patriarcado. Os quadros fazem uma crítica ao papel da mulher na sociedade, e de como o machismo dita os comportamentos aceitáveis ou não para a mulher. Ao esconder o rosto da mulher, a casa que a envolve nua, obstrui sua identidade e isola ela do mundo (BURGEOIS; NIXON, 2005).

Esta obra retrata o papel secundário da mulher, e sua insatisfação em ser dona de casa. As mulheres retratadas nas pinturas mostram a casa como um lugar essencialmente feminino, no qual ela abdica da sua identidade para a família. Estas críticas hoje em dia não são novas, mas Louise pintou os quadros em 1946 e, portanto, pode-se afirmar que ela foi uma das primeiras mulheres a expor abertamente esta discussão de perda de identidade feminina.

COCO CHANEL

Coco Chanel Todo mundo conhece essa célebre estilista que nos livrou do espartilho e das vestimentas pesadas. Nos anos 1920, Coco revolucionou a moda e quebrou paradigmas, transformando moda em libertação. A estilista produziu roupas confortáveis que se traduziam em liberdade feminina. Entre as bandeiras dela está a própria calça para mulheres. O comportamento de Coco também foi um exemplo de liberdade, pois ela teve vários namorados, mas não casou com nenhum deles.

A estilista francesa Coco Chanel

Gabrielle Chanel aboliu os vestidos armados em favor de um jeito de vestir prático e confortável; criou roupas e acessórios que hoje se encontram expostos em museus; sempre preferiu o trabalho à conveniência de um casamento e montou, sozinha, um império equivalente a bilhões de dólares em valores atuais. Mademoiselle, como ficou conhecida ao longo de 88 anos de uma agitada existência, era uma personagem dinâmica e empreendedora, sujeita a tempestades de cólera e a alfinetadas venenosas, quando se sentia ameaçada. O paradoxo marcou sua vida: era uma dama de ferro sonhadora, revolucionária com estilo clássico, ousada apesar de alérgica às grandes extravagâncias.


Coco Chanel na década de 1960


Segunda onda do feminismo:


Ocorreu a partir da segunda metade dos anos 1960 e durou até o final dos anos 1980. As feministas dessa segunda onda viam as desigualdades culturais e políticas das mulheres como questões intimamente ligadas. Utilizando do surgimento e da eficácia da comunicação de massa, as feministas encorajavam as mulheres a refletirem sobre diversos aspectos de suas vidas pessoais como estando profundamente relacionadas ao poder – estrutura de poder sexista.


Nas décadas de 60 e 70 houve inúmeras revoluções no cenário mundial, como o movimento hippie, as manifestações estudantis, os manifestos contra a guerra do Vietnã e, na América Latina os movimentos contra as Ditaduras Militares.


Especialmente nos EUA e na França, a maior bandeira era a discriminação de gênero. As mulheres lutavam por uma política de respeito às diferenças e a igualdade de direitos, entre os gêneros e a raças.


Tambem a década de 1960 foi marcada pela revolução sexual, porque ali surgiu o primeiro anticoncepcional e seu auge ocorreu com festival de Woodstock.


Em 1963, a francesa Betty Friedan publicou o livro “A Mística Feminista”, retomando as ideias de Beauvoir alastrando o movimento feminista pelo mundo. Ela coletou depoimentos de mulheres da classe média que correspondiam ao ideal de rainhas do lar e concluiu que elas não eram felizes como aparentavam ser, eram descontentes com a própria identidade.

Vocês sabiam que: Apenas em 1965, na França, as mulheres casadas passaram a ter o direito de trabalhar sem a permissão do marido? Pois é!!!!!



Em 1968, durante a realização do concurso de Miss America houve a famosa "Queima dos Sutiãs", um movimento com cerca de 400 ativistas do WLM (Women´s Liberation Movement). Protestaram para demonstrar que os concursos de beleza tratavam as mulheres como objetos, perpetuando a noção de que a aparência tem mais valor do que o que a mulher pensa.



Utilizando-se do surgimento e da eficácia da comunicação de massa, as feministas encorajavam as mulheres a refletirem sobre diversos aspectos de suas vidas pessoais.

Uma das táticas exploradas pelas feministas desse período era a conscientização das mulheres por meio de atividades coletivas, possibilitando e favorecendo o empoderamento das mulheres enquanto coletividade.

Em 1979, foi aprovada pela ONU a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), ou seja, vetou todo e qualquer tipo de discriminação contra a mulher, independente de seu estado civil, com base na igualdade dos gêneros, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos politico, econômico, social, cultural e civil, etc.

Como resultado da luta desta época, o antigo modelo de mulher entrou em crise e um novo perfil começou a se esboçar.

Cito a artista Martha Rosler, que trabalha com fotomontagens, vídeos, fotografia, texto, instalação e performance explorando questões da vida cotidiana e da mídia para a arquitetura e o ambiente construído, especialmente porque afetam as mulheres.

Fotomontagens de Martha Rosler



Grande parte do trabalho da artista Barbara Kruger (1945) consiste em fotografias em preto-e-branco que são sobrepostas com frases lidando com construções culturais de poder, identidade e sexualidade.

Bárbara Kruger


Terceira onda do feminismo:

O terceiro grande momento, iniciado na década de 1990, pode ser considerado uma continuação e uma reação às falhas do segundo movimento.

Essa terceira fase do movimento desafiou os paradigmas do momento anterior do feminismo, colocando em discussão a micropolítica. As questões mais importantes defendidas pelas mulheres dessa fase são quanto à questão cultural, social e política da cor, principalmente a participação da mulher negra na sociedade, assim como o debate do feminismo da diferença, cuja discussão centrou-se nas diferenças entre os sexos, enquanto que outras vertentes consideram não haver diferenças entre homens e mulheres, cujos papéis estariam socialmente condicionados.


Cito aqui artistas que representam esse terceiro momento.

Rosana Paulino (1967) e a arte militante negra

A artista paulistana, Rosana Paulino, nascida em 1967,tem em suas obras os temas do racismo estrutural do Brasil, os resquícios da escravidão, os padrões de beleza feminino e, principalmente, da condição da mulher negra na sociedade.

Ela diz “tocaram-me sempre as questões referentes à minha condição de mulher e negra. Olhar no espelho e me localizar em um mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um desafio diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou de comportamento que traz muito de preconceito, velado ou não, ou discutir esses padrões, eis a questão.”

Em uma de suas séries mais conhecidas, Os Bastidores, ela imprimiu fotografias de mulheres de sua família em um tecido branco colocado em bastidores, e bordou grosseiramente com linha preta por cima de suas bocas, remetendo a objetos de tortura e submissão utilizados contra os escravos, e também aos segredos guardados dentro do universo doméstico.

Ela diz: “São olhos que não podem ver, boca que não pode falar, nem gritar. Algumas vezes a costura está na garganta, uma impossibilidade de se colocar diante da sociedade.”


Série Bastidores

Outra artista femininista maravilhosa de nossa época é Beth Moysés. Nesse trabalho “Memória do afeto de 2000, ela reuniu 150 mulheres vestidas de noiva, para caminharem pela avenida paulista, despetalando rosas pelo percurso, até chegarem ao local onde enterraram os espinhos que sobraram do buquet.

“Memória do Afeto”, Beth Moysés, 2000


A artista trabalha com a luta feminina contra a violência doméstica, utiliza o vestido de noiva como símbolo do amor romântico, idealizado pela mulher desde a infância, através dos contos de fadas. Seu objetivo é denunciar a violência que ainda acontece às mulheres no cotidiano.


Vcs sabiam que: antigamente, como o homem como tinha o poder dentro da estrutura social, era permitido a ele, pela igreja católica, bater na mulher caso ela não o obedecesse?

Pois é, quer saber mais? neste livro “A História da Esposa”, vocês podem encontrar a explicação para muitas questões culturais que seguem até hoje.

O livro explica a história da mulher, desde os tempos bíblicos, as estruturas de poder da Igreja católica, o por que de a relação sexual ser apenas para procriação, em que o prazer era pecado.


Outra significante voz do feminismo brasileiro, talvez a mais importante delas. Rose Marie foi uma intelectual que dedicou a sua vida pela luta à igualdade de direitos para as mulheres, tanto é que foi reconhecida pelo governo federal como Patrona do Feminismo Brasileiro em 2005, aos 75 anos. Escreveu mais de 40 obras sobre gênero,

Ela morreu em 2014, aos 83 anos.

Qualquer dúvida escreve aqui, que eu vou ter o maior prazer em tirar as dúvidas de vocês. Vou passar a bibliografia aqui em baixo tb.


Yalom, Marilyn. A Historia da Esposa: da Virgem Maria a Madonna. Ediouro, 2002.

Muraro, Rose Marie. A mulher no terceiro Milênio. Ed. Rosa dos Tempos, 1993. Bibliografia:

Yalom, Marilyn. A Historia da Esposa: da Virgem Maria a Madonna. Ediouro, 2002.

Muraro, Rose Marie. A mulher no terceiro Milênio. Ed. Rosa dos Tempos, 1993.

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